segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

As unhas e as lixas...


Ali, naquela sala de embarque, olhava suas unhas longas, bem cuidadas. Antigamente, costuma usá-las sempre assim. Depois, houve a revolução em sua vida, o amor expandiu-lhe a alma, alargando-lhe os horizontes e as unhas passaram a ser mantidas curtas, o mais curtas que as unhas de uma mulher podem ser.
Agora refletia sobre o poder de transformação que o amor pode ter na vida de uma pessoa. Com o adeus às unhas, despediu-se também da aprovação de parte de sua família e passou a integrar uma minoria, à parte da maioria, tida por normal.
Nunca se preocupou em ser normal, este não seria seu problema agora, contudo, a exclusão incomodava, ainda que apenas manifestada no plano da idéias, na verdade, nunca havia sofrido nenhum tipo de preconceito social.
Olhou mais uma vez para as unhas.
Houve um tempo em que sentia falta delas, achava-as mais lindas compridas, depois foi se acostumando ao novo formato, ao ritual de mantê-las sempre curtas.
Agora, pela primeira vez depois de longos anos, via-se sozinha. Deixara as unhas novamente longas, mas, desta vez, elas lembravam a solidão. Já não as admirava mais tanto quanto antes.
Queria novamente apará-las, lixá-las, esculpi-las ao seu modo para que quase não existissem, para que não intimidassem...
Queria novamente.
E esse querer inebriava.
A chamada do vôo que aguardava a fez sair de seus devaneios, quem sabe algo nesta viagem não a faria passar numa farmácia e comprar uma lixa, novinha em folha???

Um comentário:

  1. Lembro de nossa conversa sobre este texto! Lembro de voce com carinho! Felicidade sempre! Bj

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